No passado dia 19 de Junho, foram atingidas nalgumas zonas do Círculo Polar Árctico temperaturas de 45º centígrados. Na povoação russa de Verkhoiansk, que costumava ter uma média, nos meses de Janeiro de -50º centígrados, o termómetro subiu agora aos 38º centígrados. Devido a este aquecimento, na cidade mais setentrional do mundo, Norilsk, uma imensa mina de níquel, o permafrost (solo e rocha que estiveram permanentemente gelados durante centenas de milhares de anos e que correspondem a 60% do território da Rússia) entrou em colapso, provocando a ruptura de um depósito onde se encontravam 20 mil toneladas de diesel, que agora contaminam a bacia hidrográfica do rio Pyasino.
Este aquecimento inédito levou cientistas, organizações ambientalistas e mesmo as Nações Unidas a lançarem alertas sobre a gravidade da situação não apenas pelo que ela significa no contexto das alterações climáticas mas também tendo em atenção o que está acontecer com a pandemia do covid-19 pois, como os cientistas vêm à muito afirmando, as mudanças de temperatura nas regiões polares e o degelo do permafrost podem reactivar vírus adormecidos os quais potenciam a possibilidade de novas pandemias.
No que toca ao impacto no clima, os cientistas referem que o derretimento do permafrost faz com que gases como o dióxido de carbono e o metano, que estavam presos ali, sejam libertados na atmosfera. Estes gases, responsáveis pelo chamado “efeito de estufa” podem aquecer ainda mais o planeta e causar mais derretimentos, isto é, criam um círculo vicioso de retro-alimentação. Por outro lado, o degelo vai também contribuir para a subida do nível dos mares com implicações directas nas cidades costeiras. De sublinhar ainda que esta onda de calor na região da Sibéria desencadeou uma série de incêndios nas florestas os quais chegaram a atingir 1,15 milhões de hectares e permanecem descontrolados.
Como explica, em artigo recente, Viriato Soromenho Marques, que entre muitas outras funções integrou o High Level Group on Energy and Climate Change da União Europeia, “já há muito que se considerava a criosfera como um dos sistemas naturais mais ameaçados pelas alterações climáticas antropogénicas. Contudo, os modelos têm subestimado a velocidade do seu colapso (principalmente no Árctico, na Gronelândia e na Antárctida), bem como do permafrost.
Tudo indica que esse processo já começou, e com isso as alterações climáticas e seus impactos serão intensificados por quatro razões: a) o desaparecimento do efeito de albedo no Árctico vai aumentar o calor absorvido pelo oceano; b) o derretimento do permafrost vai iniciar a libertação de cerca de 1, 5 biliões de toneladas de carbono orgânico (mais do dobro do carbono existente hoje na atmosfera…); c) os mega-incêndios boreais transformarão as florestas de sumi-dores em fontes de carbono; d) finalmente, a subida do nível médio do mar irá causar a ruptura de muitas regiões costeiras, ainda neste século”.