Executivo de uma das start-up mais bem-sucedidas da última década diz que corte de 25% de seus empregados (quase duas mil pessoas) tornou a empresa mais preparada para eventualidade de novas quarentenas — em que turismo nunca mais será o mesmo.
A empresa Airbnb esteve perto de perder tudo. O golpe da pandemia na indústria turística colocou a start-up, considerada uma das empresas de tecnologia mais valiosas dos Estados Unidos, diante do maior desafio da sua história. “Demorámos 12 anos para construir o negócio do Airbnb e perdemos quase tudo em questão de quatro a seis semanas”, revelou, esta semana, o director e fundador da empresa, Brian Chesky.
Em uma entrevista para a CNBC, Chesky detalhou os problemas do Airbnb e compartilhou seus prognósticos sobre o futuro da indústria, que será “muito diferente” do que o que conhecemos.
Viagens paralisadas
A crise da covid-19 afectou sobremaneira o Airbnb no início de Março, quando o turismo ficou estagnado devido às quarentenas em quase todo mundo. Foi aqui que, “como não era de se estranhar”, o Airbnb perdeu “quase tudo em poucas semanas”, explicou Chesky.
Neste novo panorama e com dados disponíveis do Airbnb, Chesky prevê que, diante das incertezas provocadas pelo vírus, o enfoque será sobre o turismo interno, com viagens a comunidades locais
O coronavírus fez com que a start-up tivesse que reduzir significativamente seus custos, o que levou à demissão de 1,9 mil pessoas — cerca de 25% de seus empregados — e eliminação de gastos com marketing, entre outros. “Foi uma experiência horrível”, disse.
“Não sabemos por quanto tempo essa crise vai nos atingir, por isso, então, esperamos o melhor, mas nos preparamos para o pior”.
O corte de pessoal — que a imprensa americana classificou como um dos maiores feitos no Vale do Silício (apelido dado à região perto de San Francisco onde ficam várias das maiores empresas de tecnologia do mundo) durante o covid-19 — permitirá que a empresa possa aguentar uma nova fase da crise, diz o executivo.
“Se tivermos outra quarentena ou várias quarentenas, se as comunidades continuarem obrigadas a fechar e o turismo parar, estaremos bem com as mudanças que fizemos”, garantiu.
Este ano, o Airbnb estima que terá menos da metade das receitas de 2019, segundo uma mensagem enviada pelo executivo a seus empregados, na época do anúncio dos cortes.
O futuro do turismo
Ainda que, nos últimos meses, a empresa não se tenha recuperado tem “produzido algo significativo”, segundo o director.
No final de Maio e início de Junho, o Airbnb registrou o mesmo volume de reservas tal como no ano anterior nos Estados Unidos, mesmo sem qualquer tipo de investimento em publicidade.
O golpe da pandemia na indústria turística colocou a start-up, considerada uma das empresas de tecnologia mais valiosas dos Estados Unidos, diante do maior desafio da sua história
Isso, na opinião de Chesky, reflecte o facto de que as pessoas querem relacionar-se com as demais — que querem sair de casa.
“Penso que o turismo vai voltar, mas tomará mais tempo do que pensávamos e será diferente”. O director executivo do Airbnb tem certeza de que o turismo, tal como o conhecíamos, é coisa do passado. “Ninguém sabe como será, mas imagino que veremos uma redistribuição dos lugares para onde se viaja”, disse.
Nesse novo panorama e com dados disponíveis do Airbnb, Chesky prevê que, diante das incertezas provocadas pelo vírus, o enfoque será sobre o turismo interno, com viagens a comunidades locais.
Do momento, há alguns dados que trazem esperança para a empresa. O Airbnb não perdeu nenhum imóvel na sua plataforma.
“Não sabemos por quanto tempo essa crise vai nos atingir, por isso, então, esperamos o melhor, mas nos preparamos para o pior”
“Temos mais casas hoje do que quando começou o covid-19”, diz o co-fundador.
Este ano, a Airbnb queria abrir em bolsa uma medida que ainda não está descartada, mas que já não é mais um compromisso da direcção.
O co-fundador diz que é um momento para ser mais moderado e não ver as coisas de forma muito extrema.“Espero que esses últimos quatro meses tenham sido uma lição”, rematou.