A mudança adquire novas características. Antes mesmo da pandemia o mundo já se questionava sobre o que faria sentido em termos de semanas de moda. Assuntos como género, sustentabilidade, comércio eram constantemente abordados nos principais órgãos de comunicação de moda do mundo.
Com o novo coronavírus, que inclusive se propagou pela Europa durante a última temporada, em Fevereiro, a pergunta que não queria calar era: o que fazer a partir de agora? De facto, não se pode mais pensar em grandes teatros cheios de pessoas ligadas à moda com suas botas e bolsas recém-lançadas, nem de filas abarrotadas de celebridades e muito menos de garantir uma foto de Bella Hadid andando pelas ruas. Sem o que o mundo já se tinha habituado, a solução não poderia ser outra a não ser pensar em projectos digitais.
Nos mês de Março, segundo o Instagram, o número de lives aumentou 70% em relação aos anteriores. Celebridades, influenciadores e profissionais de diversas áreas decidiram falar sobre seus conhecimentos para quem quisesse e pudesse assistir aos desfiles a partir de casa. Nessa mesma senda, o British Fashion Council dedicou-se a fazer uma edição da semana de moda londrina totalmente online e que não estivesse ligada a géneros numa plataforma semelhante ao Netflix, que aconteceu no último fim de semana (12 a 14), mas grande parte do material continua disponível no site oficial do evento.
Sem convites, a ideia era que todo mundo pudesse acompanhar a programação que, perante aos factos políticos ocorridos nos últimos meses, as roupas deixaram de ser as protagonistas. Com uma programação de podcasts, playlists de música, diário de designers e fashion films, as causas se tornaram maiores do que as tendências.
Em tempos onde precisamos mais do que nunca sermos conscientes, esse foi claramente um bom começo para o “novo normal”
Bianca Saunders lançou um zine (um trabalho individual auto-publicado de pequena circulação de textos e imagens originais ou apropriados, mas geralmente reproduzidos por fotocopiadora) intitulado “We Are One of the Same”, que explorava temas de identidade de género, comunidade e negritude, com impressões que podiam ser compradas em seu site.
Charles Jeffrey cancelou seus planos de transmitir uma festa em directo na noite de sábado para mostrar uma vitrine de talentos negros e uma arrecadação de fundos para o UK Black Pride.
Já Martine Rose colaborou com o poeta e activista Kai-Isaiah Jamal para comemorar o lançamento de uma colecção que usava tecidos de matéria-prima de seu estúdio. Em tempos onde precisamos mais do que nunca sermos conscientes, esse foi claramente um bom começo para o “novo normal”.