Um estudo realizado por estudantes universitários de Hong Kong mostrou que o vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que atingiu a Ásia em 2002-2003 e é parente do actual coronavírus, resiste melhor a baixas temperaturas e à baixa humidade.
Três meses depois, o declínio geral da doença ao nível dos infectados e sobretudo das taxas de mortalidade, observado no Velho Continente, numa altura em que já todos os países entraram em processos de desconfinamento nos últimos dias da primavera reviveu a hipótese.
E não é uma ideia descabida para um “vírus respiratório”, razão pela qual foi estudada e discutida em várias publicações científicas.
“Muitos vírus respiratórios são sazonais, como os da gripe ou o RSV [vírus sincicial respiratório, responsável pela bronquiolite em recém-nascidos]”, explica o epidemiologista Antoine Flahault, que dirige o Instituto de Saúde Global da Universidade de Genebra.
Assim, o SARS-CoV-2 também pode estar sujeito à influência das estações do ano: temperatura, humidade, exposição ao sol ou comportamento humano. Mas que argumentos sustentam esta afirmação?
Muitos parâmetros
Em primeiro lugar, o vírus surgiu “no inverno” na China Continental, no final de 2019. Mais tarde, “levou a fortes epidemias nas zonas temperadas do hemisfério norte entre janeiro e maio”, ressalta Flahault, enquanto “a sua actividade era mais baixa nas zonas temperadas do hemisfério sul”.
Por algumas semanas, “registamos um declínio pronunciado em quase todos os lugares, exceto em algumas regiões do hemisfério norte, como a Suécia, Polónia e alguns estados dos Estados Unidos”, acrescenta o especialista.
Em contrapartida, “à medida que o inverno se aproxima, Argentina, Chile, sul do Brasil e África do Sul estão a testemunhar um crescimento epidémico”, ressalta.
“Dá a impressão de que há um abrandamento no verão, mas pode ser parcial e não necessariamente impedir a circulação, talvez moderada, durante o verão no Hemisfério Norte”, acrescenta Antoine Flahault.
Em França, o presidente do conselho científico da COVID-19, que assessora o governo sobre a epidemia, Jean-François Delfraissy, também sugeriu essa hipótese. O “cenário número um” esperado para o verão é “um controlo da epidemia” em França, graças “às consequências do confinamento”, mas também “ao facto de que este vírus pode ser sensível à temperatura”, disse à rádio France Inter.
Em França, o presidente do conselho científico da COVID-19, que assessora o governo sobre a epidemia, Jean-François Delfraissy, também sugeriu essa hipótese. O “cenário número um” esperado para o verão é “um controlo da epidemia”, graças “às consequências do confinamento”, mas também “ao facto de que este vírus pode ser sensível à temperatura”
No entanto, a sazonalidade do SARS-CoV-2 continua a ser uma hipótese difícil de verificar, diz o especialista em doenças infecciosas Pierre Tattevin.
No momento em que as temperaturas aumentavam na Europa e rm França, “confinamo-nos ao máximo”, enfatiza.
Da mesma forma, é difícil diferenciar a influência que a mudança de estação teve e o efeito do confinamento na atual desaceleração da epidemia.
“Existem tantos parâmetros em jogo que não podemos saber o que está ligado ao clima, o que está ligado à estação ou ao facto de as pessoas prestarem mais atenção”, alerta o especialista do hospital CHU de Rennes (oeste da França).
Segunda vaga?
Um estudo da Universidade de Princeton, publicado na revista Science em maio, concluiu que a humidade e a temperatura tinham um efeito na propagação do vírus, pelo menos nos estágios iniciais da pandemia.
Além disso, a gripe nunca causa epidemias no verão na Europa, enquanto nas áreas intertropicais existe durante todo o ano.
Com um coronavírus sazonal, o hemisfério norte poderia desfrutar de um verão mais calmo, mas no outono/inverno haveria um “alto risco de nova onda”.
“É uma hipótese válida se aceitarmos a ideia de um componente sazonal. Todas as pandemias de gripe têm uma segunda onda, sempre invernal nas áreas temperadas do hemisfério norte”, diz Flahault.