Segundo a agência noticiosa Reuters, a Estónia começou a testar aquele que poderá vir a ser o primeiro “passaporte de imunidade”, em formato digital, a ser emitido por um país, e que pode levar a nação experimentar a pós-pandemia com um mecanismo de alerta que parece vai ser adoptado por mais países embora a revelia da Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com Taavet Hinrikus, fundador da startup tecnológica Transferwise e membro da organização não-governamental “Back to Work”, que está a desenvolver o projecto, estes passaportes serão usados para certificar quem é imune ao covid-19 e, por isso, permitirão aos seus portadores um regresso mais rápido à “normalidade” agora que alguns países começam a dar passos para de flexibilizar as regras de “distanciamento social”.
Outros países europeus estão também a tentar avançar no mesmo sentido sendo a Suíça um dos que mais esforços têm desenvolvido. A SICPA, uma empresa suíça conhecida por seu trabalho em tintas de segurança para moedas e documentos sensíveis, desenvolveu um conceito de “passaporte de imunidade” que combina a tecnologia blockchain com um código QR.
Estas iniciativas estão a levantar um debate muito intenso e há quem se lhes oponha tanto do ponto de vista científico e médico como no que toca às questões éticas e de privacidade
Outra empresa suíça, a Health n Go, está também a procurar desenvolver soluções através da tecnologia blockchain para fornecer certificados de saúde digitais a governos e empresas. A empresa já utilizou no passado esta tecnologia para distribuir ingressos para grandes eventos desportivos e propõe agora associá-la a um código QR que serviria como uma espécie de certificado o qual poderia ser apresentado dentro de um aplicativo “wallet” (carteira) de um smartphone.
Ainda na Europa, a Alemanha é, porventura, o país que tem mais estudos em andamento. Estes estudos têm como objectivo testar a população em massa para permitir àqueles que desenvolveram protecção contra o vírus retornarem ao trabalho mais cedo do que outros.
Noutros países do mundo, do Chile aos EUA, multiplicam-se, igualmente, as iniciativas para desenvolver “passaportes de imunidade”.
Mas estas iniciativas estão a levantar um debate muito intenso e há quem se lhes oponha tanto do ponto de vista científico e médico como no que toca às questões éticas e de privacidade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi uma das primeiras entidades a lançar um alerta aos governos afirmando em comunicado que “neste ponto da pandemia, não há evidências suficientes sobre a eficácia da imunidade mediada por anticorpos para garantir a precisão de um ‘passaporte de imunidade’ ou ‘certificado sem risco’”. E uma das mais prestigiadas revistas científicas do mundo – a “Nature” – veio a público explicar, de forma muito enérgica e assertiva, porque os “passaportes de imunidade” são “uma má ideia”. O artigo explica em 10 pontos – 4 de natureza científica e 6 de cariz ético – porque não se deve avançar nesse sentido.
Refira-se, por fim, que muitas organizações estão também preocupadas com alguns projectos que, como relatava a revista Forbes, querem associar os passaportes a sistemas de reconhecimento facial e aos ficheiros médicos dos utilizadores. Estes projectos, que estão sobretudos a ser desenvolvidos por empresas de alta tecnologia ligadas a áreas como a Inteligência Artificial, permitiriam criar uma “infraestrutura de vigilância sanitária” a qual, a não ser fortemente regulada, constituiria uma brutal invasão dos direitos à privacidade dos cidadãos.