Stefano Boeri, presidente da Trienal de Milão conhecido pelas “florestas tropicais”, está agora focado num mundo pós-pandemia. Numa conversa com jornalistas através do Facebook, o arquitecto e urbanista italiano anunciou que o mundo está prestes a entrar numa “nova era”, mais ecológica e sem energias fósseis, prevendo que venha a surgir depois do covid-19.
“A normalidade é uma das causas deste desastre”, pelo que “chegou o momento de tomar decisões corajosas e pragmáticas”, insistiu o urbanista, conhecido pelos projectos inovadores de arranha-céus cobertos de vegetação.
O arquitecto e urbanista italiano Stefano Boeri está a pensar no “novo” mundo pós-pandemia e tem a certeza de que não poderá ser em cidades sobre-povoadas
Com um grupo de sociólogos, antropólogos, urbanistas e artistas, o arquitecto está a estudar as modalidades de instauração do “muro biológico” entre as pessoas imposto pelo novo coronavírus, bem como a introdução de um novo modo de vida.
“Caso contrário, as cidades vão transformar-se em bombas de contaminação”, afirmou Stefano Boeri, professor na escola politécnica de Milão, capital da Lombardia, a região italiana mais atingida pela pandemia do covid-19.
Numa altura em que se assiste, na Europa, medidas para a redução de confinamento, Boeri defendeu o regresso às aldeias italianas.
“A Itália conta 5 800 aldeias com menos de cinco mil habitantes, incluindo 2 300 quase abandonadas. Se as 14 metrópoles do país ‘adoptarem’ estes pequenos centros históricos desabitados, dando-lhe vantagens fiscais, meios de transporte, etc… isso seria uma porta de saída. Isto é o futuro”, afirmou nas colunas do diário italiano La Repubblica.
Esta proposta parece responder aos problemas colocados pela actual situação, com a pandemia a obrigar a população a respeitar uma distância de pelo menos um metro entre indivíduos, o que é difícil nas cidades sobrepovoadas, nomeadamente nos transportes públicos e em escritórios de tamanho reduzido.
“Compreendemos que podemos fazer tele-trabalho e que passaremos mais tempo em casa. É preciso controlar esta evolução. O campo facilita isso, porque é preciso libertar espaço nas zonas urbanas”, explicou. De acordo com os sociólogos, muitas pessoas querem sair das grandes cidades por causa do vírus, e passar mais tempo no campo.
O regresso às aldeias está a ser apontado como solução para evitar a propagação de vírus na população
Boeri, que transformou prédios em florestas e concebeu uma cidade-floresta na China, com casas, escolas e escritórios cobertos por um milhão de plantas em 140 hectares, está convencido de que Roma é ideal para receber este projeto, por ter “monumentos únicos, muitos espaços verdes e uma série de aldeias nos arredores”.
A ideia de Boeri coincide com o tema da próxima Bienal de arquitectura de Veneza, que adiou a abertura, prevista este mês, para final de Agosto: “Como viveremos em conjunto?”.