Não é novidade que a pandemia do coronavírus impactou os modelos do trabalho. Mas o que muito profissionais se perguntam é se todas essas mudanças que a doença trouxe vão resultar num novo mercado de trabalho. Procurando esclarecer essa questão, a socióloga do trabalho norte-americana Tracy Brower que habitualmente colabora com a revista Forbes faz uma reflexão sobre o futuro do trabalho.
O novo mercado de trabalho
Para explicar como deve ser o novo mercado de trabalho pós-coronavírus, a pesquisadora separa a sua análise em cinco itens: o que as empresas farão pelos colaboradores, como os profissionais irão interagir com os pares, como irão mudar os locais de trabalho, como as organizações vão mudar os seus processos e como aproveitar as oportunidades de carreira neste novo cenário.
#1. O que as empresas farão pelos colaboradores
Muitas empresas criaram ferramentas de apoio para ajudar a sua força de trabalho a sobreviver à crise. Tracy acredita que esse comportamento deve ser mantido e que as organizações vão aumentar a assistência que oferecem aos colaboradores. Para a socióloga, no novo mercado de trabalho, os gestores estarão cada vez mais envolvidos no engajamento e motivação dos seus funcionários, independente de trabalharem in loco ou em home office. Ela também observa que as organizações terão uma preocupação maior com a saúde mental e emocional dos trabalhadores e procurarão oferecer benefícios e soluções para lidar com a questão.
A liderança das empresas vai melhorar uma vez que, durante a crise, o mercado como um todo terá a oportunidade de reconhecer quem são os verdadeiros líderes
Tracy também prevê que a liderança das empresas vai melhorar uma vez que, durante a crise, o mercado como um todo terá a oportunidade de reconhecer quem são os verdadeiros líderes. E define que serão aqueles que se comunicam com clareza, permanecem calmos e fortes, demonstram empatia, pensam a longo prazo e tomam decisões apropriadas. Além disso, a pesquisadora acredita que a cultura da empresa se tornará um foco já que, depois do coronavírus, as organizações vão reconhecer cada vez mais a importância da cultura como contexto para o desempenho e o envolvimento dos funcionários.
#2. Como os profissionais irão interagir com os pares
O novo mercado de trabalho também será propício ao aumento da diversidade. De acordo com Tracy, o home office abriu caminho para que mais pessoas contribuíssem de novas maneiras e as empresas devem começar a como pessoas com diferentes capacidades são capazes de contribuir. Isso tudo será alinhado de forma inclusiva com novas políticas, práticas e abordagens ao trabalho em equipa.
Além disso, este cenário fará com que o relacionamento entre colegas de trabalho melhore. Isso porque actualmente todos estão unidos contra um inimigo comum – o coronavírus – e esse engajamento irá fortalecer laços e conexões. Também por conta disso, lideranças e pares tornam-se mais empáticos, principalmente por entenderem melhor os desafios da vida pessoal da cada um. E, consequentemente, os profissionais também demonstrarão mais consideração pelo papel que a família e amigos têm nas suas vidas.
#3. Como irão mudar os locais de trabalho
Nem todos devem continuar a trabalhar em casa depois da crise, mas a pesquisadora afirma que, certamente, os horários devem tornar-se mais flexíveis no novo mercado de trabalho. Mesmo empresas que antes eram avessas à modalidade viram-se obrigadas a reconhecê-la como opção. Com isso, Tracy acredita que as companhias vão expandir a possibilidade de trabalho remoto, oferecendo mais opções e flexibilidade para os funcionários trabalharem onde possam ser mais produtivos.
As empresas irão ter de implementar técnicas de limpeza aprimoradas, mais distanciamento e opções de locais para actividades específicas
E quem for voltar para o escritório também deve se deparar com mudanças. Para a socióloga, as empresas precisarão de implementar técnicas de limpeza aprimoradas, mais distanciamento e opções de locais para actividades específicas. Os profissionais também se tornarão cada vez mais confortáveis com o uso de novas tecnologias, por conta das suas experiências durante a pandemia.
#4. Como as organizações vão mudar os seus processos
Com mais velocidade e menos burocracia, segundo Tracy. Um dos benefícios da pandemia foi que as empresas precisaram de parar para reduzir ou eliminar sistemas desnecessários. Isso levou as organizações a simplificar os processos para responder mais rapidamente às necessidades. Parte desse processo está relacionado ao facto de que muitas empresas tiveram que delegar a tomada de decisões para aumentar a velocidade, resultando esta numa maior capacitação dos funcionários. Os efeitos positivos dessa trajectória levarão as empresas manterem essa abordagem.
E as restrições impostas pelo vírus farão com que a inovação seja primordial no novo mercado de trabalho.
A socióloga observa que os desafios criados pelas medidas de combate ao coronavírus forçaram os profissionais a buscar novas formas de pensar, melhores abordagens e novas perspectivas sobre os problemas. Além disso, Tracy também acredita que as empresas vão começar a colaborar mais entre si ou pelo menos ter um senso de responsabilidade maior com as suas comunidades e vontade de colaborar para o bem maior nas suas áreas de actuação.
#5. Como aproveitar as oportunidades de carreira
O coronavírus pode ter causado uma grande onda de desemprego em toda a parte mas a pesquisadora garante que os profissionais terão novas oportunidades de carreira. Durante este período, as empresas tiveram que reavaliar trabalhos, expandir responsabilidades e explorar novos limites para as suas entregas. Essa mudança na maneira como empregos são projectados trará muitas oportunidades de carreira. A grande demanda será por pessoas que possam acelerar rapidamente, agir e colocar motivação em esforços que façam as empresas funcionarem.
A grande demanda será por pessoas que possam acelerar rapidamente, agir e colocar motivação em esforços que façam as empresas funcionarem
Além disso, no novo mercado de trabalho, as empresas terão pressa em restabelecer p seu valor e +reenergizar’ a sua oferta de produtos ou serviços, e para isso adoptarão um modelo de trabalho similar aos das startups. Os profissionais devem preparar-se e desenvolver raciocínio rápido, capacidade de manter um grande fluxo de ideias e ter o engenho para descobrir e fazer as coisas acontecerem.
Tracy finaliza afirmando que pode ser difícil manter o optimismo no futuro, mas que existem oportunidades reais esperando os profissionais após o coronavírus. Seja observando o que as empresas fazem, a maneira como cada um trabalha com outras pessoas, como fazer melhores escolhas no trabalho, como organizações trabalham os seus compromissos com a comunidade ou novas oportunidades de carreira.
As lições que os profissionais levam desta crise irão ressoar ao longo dos próximos anos e servir de guia para o desenvolvimento profissional.