P elos quatro cantos do mundo, não há Nação que tenha escapado aos efeitos nefastos causados pela pandemia do covid-19. As economias de vários países vão ter de lidar com uma recessão – impulsionada pelas medidas de restrição de actividades sociais e comerciais –, e não vai ser diferente em Moçambique ao longo dos próximos trinta dias depois da prorrogação do Estado de Emergência até ao final de Maio por parte do Presidente da República, anunciado esta terça-feira à noite.
Com este pano de fundo, o Diário Económico procurou saber como a empresa que lidera o mercado das cervejas no país, a Cervejas de Moçambique, subsidiária da ABInBev desde 2016, esta a adaptar-se a um cenário sem precedentes, imposto pela pandemia. Hugo Gomes, administrador para os assuntos corporativos da CDM descreve ao DE o impacto “massivo” sobre as vendas, mas fala também de um momento único em que as “grandes empresas nacionais têm de se assumir” e reagir para evitar a propagação da doença.
Em que medida a operação da CDM foi afectada pela pandemia e como está a reagir à mesma?
Antes de mais, importa referir que estamos diante de uma realidade sem precedentes na nossa história recente e, mais do que nunca, é fundamental que nos mantenhamos calmos, serenos e que apelemos sempre ao nosso mais profundo instinto de liderança. Desde a eclosão desta pandemia [covid-19] que a nossa prioridade é primeiramente salvaguardar a saúde, segurança e bem-estar dos nossos colaboradores; sem seguida gerir a situação para assegurar a continuidade, na medida do possível, dos nossos negócios; e nos mantermos atentos e preparados para o pós-crise.
Como é sabido, fruto de medidas acertadas instituídas pelo Governo, os bares e barracas estão temporariamente fechados. Ora, estamos a falar de canais de retalho que representam uma larga franja do nosso volume de vendas, o que inevitavelmente impacta negativamente o nosso negócio, fazendo decrescer a produção e consequentemente a nossa contribuição para o fisco [até 2018 a CDM contribuía com 4,8 milhões de dólares mensalmente para a Autoridade Tributária de Moçambique].
Existe uma grande preocupação da vossa parte, pressuponho…
As ‘externalidades’ negativas são, de facto, massivas. Por forma a fazer cobro à situação, estamos primeiramente a tudo fazer para garantir o pleno acatamento das medidas aprovadas pelo Governo. Adaptámos o nosso “modus operandi” à nova realidade, implementámos um vasto leque de medidas de prevenção e segurança, tendo parte considerável dos novos colaboradores passado a trabalhar a partir de casa, estando apenas nas nossas unidades fabris o pessoal estritamente necessário para garantir a continuidade do negócio.
Adaptámos o nosso “modus operandi” à nova realidade, implementámos um vasto leque de medidas de prevenção e segurança, tendo parte considerável dos novos colaboradores passado a trabalhar a partir de casa
Como é que a empresa se está a adaptar às medidas decretadas a nível interno (trabalhadores) e face aos seus consumidores?
Para nós, a prioridade é a saúde, segurança e bem-estar dos nossos colaboradores. Nesses termos, adoptámos de imediato um conjunto de medidas preventivas nas nossas instalações e definimos uma série de directrizes internas alinhadas com as acções decretadas pelo Governo.
Estendemos, ainda, as nossas acções de educação e sensibilização aos nossos parceiros de negócios, nomeadamente, distribuidores e armazenistas, produzindo materiais educativos (posters para afixação nos estabelecimentos comerciais) para garantir que estes estão conscientes dos riscos do covid-19 e que transmitam tais ensinamentos a todos com quem interajam quer na esfera familiar, quer de negócios. Importa ainda destacar, que em parceria com o Município de Maputo e a FIVE STARS, lançámos uma campanha de pulverização de mercados informais e paragens de autocarros.
A mesma contemplou a desinfecção das mãos dos passageiros antes de se transportarem nos autocarros. Na mesma senda, decidimos retirar todas as nossas publicidades da televisão e a grande maioria das que estavam em outdoors, usando esses espaços para a sensibilização sobre a doença. Ansiamos ainda doar 10 000 máscaras e sanitizadores a várias entidades sanitárias do país.
Lançámos uma campanha de pulverização de mercados informais e paragens de autocarros que contemplou a desinfecção das mãos dos passageiros. Na mesma senda, decidimos retirar todas as nossas publicidades da televisão e a grande maioria das que estavam em outdoors, usando esses espaços para a sensibilização sobre a doença
São conhecidas as medidas e acções preventivas que a CDM tem vindo a promover. Qual é o objectivo destas acções e como é que elas se irão conjugar?
As várias iniciativas que temos desenvolvido visam essencialmente sensibilizar o público em geral para a seriedade da pandemia com a qual nos deparamos e a necessidade de todos fazermos a nossa parte, cumprindo escrupulosamente com as medidas decretadas pelo Governo. As iniciativas abrangem as três regiões do país, nomeadamente Sul, Centro e Norte, e pretenderemos sempre incidir as nossas acções junto das camadas mais vulneráveis.
É momento das grandes corporações fazerem jus ao rótulo que lhes é atribuído bem como à sua dimensão e, conjuntamente com o Governo, ajudarem na mitigação dos efeitos nefastos desta pandemia.
Qual é o papel das grandes indústrias, numa altura crítica para a sociedade e para a economia do país, face aos acontecimentos que todos vivemos?
Como dizia, estamos perante uma realidade sem precedentes em que todos temos a aprender. Contudo, é o momento das grandes corporações fazerem jus ao rótulo que lhes é atribuído bem como à sua dimensão e, conjuntamente com o Governo, ajudarem na mitigação dos efeitos nefastos desta pandemia.
Entendemos que estamos a operar em tempos de grande incerteza e que é vital que as próprias empresas tenham alguma musculatura para poderem operar e por essa via, poderem ajudar. Contudo, e como tenho dito informalmente, o muito resulta da associação do pouco, e se todos actores vivos da nossa sociedade derem o seu pequeno contributo, ainda que o mesmo seja o de simplesmente absterem-se de sair à rua, então nós, enquanto sociedade, certamente que venceremos mais este desafio que nos é imposto e estaremos prontos para o período pós-crise.
Pedro Cativelos & Emídio Massacola