A pandemia da covid-19 e as suas consequências podem abrir portas aos países africanos para definitivamente avançarem com políticas que garantam o seu desenvolvimento e os preparem para futuras crises, que vão surgir.
A opinião é do especialista em economias africanas Joseph Martial Ribeiro que, em entrevista à agência VOA, diz que “não resta outra alternativa à transformação económica, que tem sido adiada há muitas décadas”.
“A Ásia conseguiu modernizar a sua economia e hoje toda a gente compra na Ásia”, exemplifica Ribeiro, lembrando que na década de 1960 as então colónias africanas, que estavam a tornar-se independentes, tinham um rendimento económico superior ao dos países asiáticos.
O também representante do Banco Africano de Desenvolvimento em Angola, que fala em nome pessoal, afirma que a África tem de fazer este trabalho de casa, “a começar por uma agricultura modernizada e mecanizada”.
Em segundo lugar, Joseph Martial Ribeiro defende uma “política de industrialização que seja prática e executável porque sem a industrialização vamos ter sempre desemprego e estaremos impedidos de exportar, quando todos os economistas tendem a concordar que o motor da economia é uma exportação diversificada porque o mercado internacional é infinito”.
A crise revela outro problema que se manterá se não for encarado de forma frontal, que é a produtividade da dívida, na óptica daquele autor de três obras em gestão de projectos.
Diversificação é problema dos países lusófonos também
“Tradicionalmente a dívida africana não tem sido tão produtiva como devia ser por vários motivos e esta é uma oportunidade para ver como as dívidas que contraímos lá fora podem ser produtivas, no sentido de permitir que uma vez aplicadas as verbas, reembolsar o principal e fazer o serviço da dívida que todos os anos fica mais pesado para os países africanos”, diz Ribeiro.
A diversificação da economia é um desafio que também enfrentam os países africanos de língua portuguesa, como, por exemplo, Angola, com o petróleo, Moçambique, com os recursos naturais, Cabo Verde com o turismo e a Guiné-Bissau, com a castanha do caju.
Aquele especialista alerta que “vão sofrer muito com a crise” porque “enfrentam o mesmo problema da concentração da economia”, embora tenham muito potencial, como Angola e Moçambique, nomeadamente no campo da agricultura.
Ao defender que as medidas devem ser tomadas agora, Joseph Martial Ribeiro adverte que “crises não vão faltar”.