Em um movimento sem precedentes, cinco grandes marcas de relógios uniram-se para anunciar sua saída da Baselworld 2021. Rolex, Patek Philippe, Chanel, Chopard e Tudor, marca-irmã da Rolex, juntas anunciaram planos de sair da Baselworld –até agora a maior exposição de relógios do mundo no próximo ano.
O comunicado (divulgado pela Rolex) não surpreende – visto que cartas abertas sobre os planos da feira e reembolsos por parte da organização, entre outras coisas, foram recorrentes na semana passada.
Um facto a considerar é de a Rolex, Patek, Chopard e outras grandes marcas estarem a trabalhar com a Fondation de la Haute Horlogerie (Fundação de Alta Relojoaria; FHH, na sigla em francês) para criar um novo evento em Abril de 2021 para retalhistas, imprensa e coleccionadores. Essa feira poderá estar ligada à exibição da Watches & Wonders, programada para ocorrer durante o mesmo período. E de acordo com o comunicado, outras empresas também podem participar desta exposição. A FHH ainda não divulgou o anúncio formal dos planos.
“Precisamos constantemente nos adaptar e questionar o que fazemos, já que o que estava certo ontem pode não ser necessariamente válido hoje”
A FHH é o grupo que organiza o que, até este ano, foi conhecido como Salon International de la Haute Horlogerie (Salão Internacional da Alta Relojoaria; SIHH, na sigla em francês). Este ano, o evento foi renomeado para Watches & Wonders, que aconteceria neste mês, mas foi cancelado devido a pandemia do covid-19. A SIHH era considerada a exposição mais prestigiada, onde todo o Grupo Richemont se exibia, juntamente com as principais marcas independentes.
Da mesma forma, a Baselworld, que estava programada para começar a 29 de Abril, também foi cancelada devido à pandemia. Houve uma grande disputa entre o MCH Group, que administra a feira, e as grandes marcas, chegando a envolver políticas de reembolso para o evento cancelado de 2020. O chefe do Comitê de Expositores do evento, Hubert du Plessix, também executivo da Rolex, escreveu uma carta na semana passada onde pedia um estorno a ser emitido aos expositores e indicando que, caso contrário, “tememos que este seja o fim, puro e simples, da Baselworld”.
Aparentemente, a administração da feira também optou por reagendar o evento para Janeiro do próximo ano sem antes consultar aos expositores. As datas estão em conflito com uma série de outras exposições de jóias e relógios em todo o mundo.
No comunicado, executivos de quatro das marcas incluíram seus comentários
O CEO da Rolex, Jean-Frederic Dufour, recordou que a empresa participa da Baselworld desde 1939, e “infelizmente, dada a evolução do evento e as recentes decisões tomadas pelo MCH Group, apesar do grande apego que temos pelo evento, decidimos acabar com a parceria. Após as discussões iniciadas pela Rolex, parecia natural criar um novo show com parceiros que compartilham nossa visão e nosso apoio inabalável ao sector relojoeiro suíço. Isso nos permitirá apresentar nossos novos relógios alinhados com nossas necessidades e expectativas, para unir forças e defender melhor os interesses da indústria”.
A Patek Philippe expõe na Baselworld há décadas e há muito tempo é um pilar do evento. A decisão de sair não foi tomada de forma impulsiva.
Segundo Thierry Stern, presidente da empresa, representando a quarta geração da família Stern, referiu que “a decisão de deixar a Baselworld não foi fácil” uma vez que participam do evento desde sempre.
“Precisamos constantemente nos adaptar e questionar o que fazemos, já que o que estava certo ontem pode não ser necessariamente válido hoje. [Nos dias que correm], a empresa não está mais de acordo com a visão da Baselworld. Houve muitas discussões e problemas não resolvidos, a confiança não está mais presente”, disse, frisando que “após várias discussões com a Rolex e de acordo com outras marcas participantes, decidimos criar, juntos, um evento único em Genebra, representativo do nosso saber-fazer”.
Em uma nota semelhante, Karl-Friedrich Scheufele, CEO da Chopard, lembrou a história de exibição da marca na Baselworld, que remonta há mais de meio século. Ele ressaltou ainda o compromisso da marca em criar um novo show para concorrer com a Watches & Wonders e continuar a mostrar o artesanato secular da relojoaria.
“A Chopard foi exibida pela primeira vez na feira de Basileia em 1964, com um stand de cerca de 25 metros quadrados. Após cuidadosa consideração, nossa família decidiu apoiar a iniciativa Rolex e se aposentar da Baselworld –uma decisão dolorosa. A criação deste novo evento em Genebra, paralelamente à Watches & Wonders, nos permitirá atender melhor nossos parceiros de relojoaria e nossos clientes”, considerou o CEO da Chopard.
Frédéric Grangié, presidente da Chanel Watches & Fine Jewelry, referiu que “esta iniciativa representa um marco na história da relojoaria Chanel e faz parte de uma estratégia de longo prazo, iniciada com o lançamento dessa actividade em 1987”.
A FHH ainda não se pronunciou formalmente, indicando que fará um anúncio separado nas próximas semanas. No entanto, Jérôme Lambert, CEO do Richemont Group, disse, em nome do Conselho da FHH, que esta “tem o prazer de receber um novo salão que fortalecerá o histórico evento Watches & Wonders em Genebra no próximo ano, no início de Abril”.