Ocancelamento da Semana da Moda Xangai, decretado logo que se tornou clara a verdadeira dimensão da epidemia do coronavírus na China, foi o primeiro sinal de alerta para o mercado do segmento do luxo.
Tendo em atenção que a China é responsável por um terço do mercado global de luxo, com um facturamento anual de 100 biliões de dólares, as medidas draconianas impostas pelas autoridades, tiveram um impacto imediato nas operações de marcas como a Yves Saint Laurent e a Ralph Lauren que viram a sua facturação cair em cerca de 80%.
Mas este cancelamento da Semana da Moda Xangai, que deveria contar com a participação de grandes marcas como a Burberry, a Dior, a Valentino e a Prada (entre muitas outras) acabou por marcar apenas o princípio de uma crise profunda no sector. Com a chegada da pandemia à Europa e a forma como afectou Itália, um dos principais destinos para os consumidores deste segmento de mercado, o influxo de clientes nas lojas e facturamento teve uma quebra imediata na ordem dos 40%, número que se agravou, logo a seguir, com o “fecho” da país para conter a pandemia.
Nos Estados Unidos, o país actualmente mais afectado pela crise pandémica e que é o mercado mais importante deste segmento (o dobro do chinês), um estudo da Morning Consult, publicado em meados do mês de Março, indica uma quebra de confiança generalizada entre os consumidores de todos os estractos sociais. Curiosamente, foi entre os consumidores do segmento do luxo que primeiro se verificou a maior e mais rápida quebra de confiança.
Entretanto, num inquérito realizado aos principais executivos das grandes marcas do sector, efectuado pela Altagamma em parceria com o Boston Consulting Group e a firma de investimento Bernstein, a sua estimativa é que a crise poderá levar a perdas na ordem dos 30 a 40 biliões de dólares, algo sem precedentes.
Mas a questão principal que se tem colocado aos analistas do sector prende-se sobretudo com o futuro do sector. Esta preocupação advém do facto de ser, neste momento, difícil avaliar os impactos psicológicos, a médio e longo prazo, nos hábitos de consumo.
Para Chris Gray, consultor especializado em estudos sobre a psicologia e o comportamento dos consumidores e que trabalhou com a Saatchi & Saatchi, a maior agência de publicidade do mundo, é possível que a esta retracção no segmento do luxo se siga, no período pós-pandémico, a um regresso à “normalidade”.
É isso que tem acontecido quando ocorrem eventos catastróficos (II Guerra Mundial, 11 de Setembro, etc.). O sentimento de euforia e descompressão após uma crise induz a um comportamento “aquisitivo” e tende a restabelecer a situação.
No entanto, para Chris Gray, não é certo que, desta vez, isso venha a acontecer pois esta crise é diferente de todas as anteriores: “A ameaça ao bem-estar físico das pessoas, a esta escala e envolvendo as sociedades como um todo, é algo que não tem precedente histórico nos tempos modernos. A ansiedade e o sentimento de insegurança não é comparável, nem de perto nem de longe, com a recessão de 2008”. A intensidade desta ansiedade é algo novo para nós”.
Daí que, segundo Chris Gray, apesar de se poder esperar uma “retoma”, a verdadeira questão é: que tipo de retoma será esta? Porque é bem possível que, saídos da crise, os comportamentos e as expectativas das pessoas tenham mudado sejam diferentes.
Tal como Gray, também trabalhos recentes da consultora Mckinsey e da Canvas8 procuram antecipar o que será o futuro do mercado do luxo pós-pandemia.
Via RADAR / Maputo Fast Forward