O dia de ontem já dispensa apresentações. Ultrapassar o dia de hoje significa mais um dia na luta que temos vindo a travar e, desejavelmente, um acumular de fortes aprendizagens. O dia de amanhã será mais uma – esperamos todos – nova conquista. E o dia a seguir?
Estamos a viver um cenário estrondosamente disruptivo, em que nada mais será “como antes” e em que o desígnio popular “tudo voltará à normalidade” é absolutamente ambíguo. O que é “normalidade” depois da Covid-19? E se não houver um “pós-Covid-19”, mas um “co-Covid-19”, que é como quem diz “vamos aprender a viver com este fenómeno e preparar-nos melhor para todos os outros a que a globalização, a aceleração deste VICA nos vai continuar a expor!”.
Nada será como antes, principalmente, nós mesmos: qual será o nosso papel a desempenhar e que lições iremos nós partilhar com as próximas gerações na gestão das futuras crises?
Ainda que o contexto actual exija uma (re)acção imediata na gestão diária desta crise com inquietações, preocupações, receios, dúvidas, incertezas, há que agir com a responsabilidade de que não nos poderemos limitar a sobreviver ao dia de hoje, mas também a liderar “o dia a seguir”. Que dinâmicas organizacionais podemos antecipar que vieram para ficar?
Nada será como antes, principalmente, nós mesmos: qual será o nosso papel a desempenhar e que lições iremos nós partilhar com as próximas gerações na gestão das futuras crises?
Go digital NOW! E de repente somos obrigados ao encapsulamento e forçados ao comportamento digital. Embora esta já fosse uma prática comum a algumas empresas, hoje está completamente generalizada e não vai retroceder. Muitas das equipas continuarão em regime de teletrabalho e esta será uma tendência necessariamente crescente, o que nos traz à cabeça seis principais frentes de acção críticas para ganharmos vantagem competitiva:
- Infra-estrutura de rede: maior parte da nossa força de trabalho tem um débil ou nulo acesso doméstico à internet, o que coloca uma grande parte das pessoas fora desta grande tendência e podemos ter aqui uma importante alavanca para que este tema se torne alvo de melhoria urgente.
- Nova cultura organizacional: mais do que escolher e implementar as melhores ferramentas de trabalho colaborativo e à distância, o fundamental para que a verdadeira transformação (e não transição!) digital aconteça é consciencializar, motivar e capacitar as pessoas de que não trabalharemos mais da mesma forma e isto mexe necessariamente com as suas emoções. É preciso que as nossas equipas, necessariamente mais responsabilizadas e maduras, entendam por que estamos a transformar a nossa cultura de trabalho, como o vamos fazer com elas, o que esperamos reciprocamente e como as poderemos apoiar neste processo.
- Cadeia de valor ágil, colaborativa e local: há e haverá uma acentuada transformação nos hábitos de consumo com as pessoas a viver e a priorizar mais a sua dinâmica familiar, com a curva do comércio electrónico, do ensino à distância e do segmento B2C, por exemplo, a crescer significativamente em todo o Mundo. Também os nossos hábitos como Clientes e os dos nossos Clientes se alterarão, o que significa que a nossa cadeia de valor passará a incluir a totalidade do nosso ecossistema provocando cadeias de valor integradas com alianças efectivas e cada vez mais solidárias e transparentes entre os nossos fornecedores, parceiros e clientes e que nos permitam servir melhor o interesse de todos, ser mais rápidos, competitivos e a fazer uma melhor mitigação de risco entre todos.Para além disso, a tendência de países como a Inglaterra ou os Estados Unidos, por exemplo, parece ser ter a menor exposição possível a cadeias de abastecimento internacionais complexas, voláteis e dispendiosas voltando-se mais para si mesmas. Isto pode significar uma oportunidade para o início de mais e melhores projectos de desenvolvimento com vista à autossuficiência local a partir dos recursos (de todos os tipos) que cada país tenha disponíveis, com as empresas de maior porte a apoiar mais o comerciante e o empreendedor local.
- Automação e robótica: tendência que parecia mais distante com as empresas hoje a planear ancorar a sua nova cadeia de valor no poder da infotech, apostando mais em sistemas artificialmente inteligentes do que em humanos o mais breve possível. O “reskilling” é assim outra das tendências tornadas urgentes e estratégicas para o “novo normal” pelo que será fundamental começarmos a planeá-lo e a fazê-lo na medida do possível desde já.
- Flexibilização da força de trabalho (Gig Economy): as empresas, motivadas por uma melhor gestão de risco e mais eficiência reforçarão a tendência da terciarização da força de trabalho em todas as operações possíveis e as pessoas, com maior evidência junto das novas gerações, possibilitadas de conjugar a sua actividade principal com outros interesses e em estar mais tempo com a sua família, estimularão o crescimento dos profissionais liberais.
- Cibersegurança: este é um ponto crítico e que é urgente de ser acautelado à medida que todo o novo comportamento digital dita as novas regras e se afirma como a principal alavanca relacional e transaccional da nossa nova cadeia de valor. Proteger a informação de todo o nosso ecossistema pode ser “the next big thing” se não o fizermos de forma preventiva.
Estamos num momento de ressignificação emocional, o Mundo nunca mais será o mesmo e é nossa responsabilidade prioritária garantir que não ficaremos para trás. Negócios como viagens e petróleo poderão continuar a ser potenciais perdedores, mas novos modelos se antecipam ganhadores como a agricultura, o e-commerce, o ensino à distância, a logística e transportes, o pequeno comércio tradicional, a saúde e o bem-estar, por exemplo.
É nosso compromisso começar a criar hoje e a cada dia as condições para sobreviver, colher aprendizagens e liderar “o dia a seguir”.