Táxis parados numa fila de cerca de um quilómetro, alguns motoristas vencidos pelo sono e deitados em assentos tornados espreguiçadeiras mostram uma das piores crises do sector em Maputo, devido ao novo coronavírus, relatam os operadores do ramo.
Cláudio de Sousa, motorista e dono de um táxi há mais de duas décadas, conta que nunca tinha visto algo assim. Desde há duas semanas, o máximo que consegue fazer são três viagens por dia.
Antes da primeira mensagem do Presidente da República, Filipe Nyusi, a alertar para a propagação da pandemia da covid-19, há duas semanas, Cláudio de Sousa conseguia chegar às dez viagens por dia.
“Quem apanha táxi em Maputo são turistas, trabalhadores de ONG, grandes empresas e de outras empresas com um pouco mais de capacidade, mas esses trabalham agora a partir de casa ou já voltaram para os seus países”, explica Sousa.
Não há turistas e os trabalhadores das grandes empresas trabalham a partir de casa ou deixaram o país
Na “praça do Hotel Santa Cruz”, no centro de Maputo, a partir de onde opera, não ficava mais do que uma hora à espera de vez para transportar um passageiro – agora chega a permanecer ali durante três horas.
Paulo Jorge, que também opera a partir do Hotel Santa Cruz, diz que se o negócio continuar como está, o sector caminha para a falência, porque não será possível pagar combustível, acessórios, seguro e taxas.
“São agora 15 carros na fila, há mais de três horas, e a fila não anda. Nunca vivi nada assim, estamos cá apenas para passar tempo”, considera Paulo Jorge, apontando para os veículos enfileirados na berma da Avenida 24 de Julho, centro da capital moçambicana.
Onório Muthemba, que faz táxi a partir da baixa de Maputo, também teme pela sobrevivência de famílias que dependem daquele serviço, porque os utentes “desapareceram”.
“Não há turistas e os trabalhadores das grandes empresas trabalham a partir de casa ou deixaram o país. Já sentíamos dificuldades antes dessa doença e não sei o que será de nós”, refere Onório Salazar.
Os serviços de táxi em Maputo são maioritariamente operados por trabalhadores por conta própria, uma classe vista como vulnerável em tempos de crise em Moçambique, pelo facto de a maioria não estar inscrita no Instituto Nacional de Segurança Social (INSS).
Moçambique regista 10 casos oficiais de infecção pelo novo coronavírus e vive em estado de emergência até final do mês, proibindo todo o tipo de eventos, públicos ou privados e até religiosos.
O número de mortes em África subiu para pelo menos 209 num universo de mais de 5 940 casos confirmados em 49 países, de acordo com as estatísticas sobre a doença no continente.
Agência Lusa