Oíndice mundial dos mercados de acções recuou 13,7% em Março, com as maiores quedas registadas na América Latina e na Zona Euro. As praças de Bogotá, São Paulo, Buenos Aires e Viena foram as mais penalizadas. Lisboa perdeu 16%. A resposta para travar a derrocada soma €4,5 biliões em pacotes governamentais e cortes de taxas por 50 bancos centrais.
As bolsas à escala mundial perderam cerca de 11 biliões de euros de capitalização em Março.
O índice mundial MSCI recuou 13,7%. É o pior registo mensal desde a crise financeira de 2008. As sessões mais negras registaram-se a 12 e 16 de Março, com quebras diárias superiores a 9% à escala mundial.
O mês caracterizou-se pela declaração de uma situação de pandemia pela Organização Mundial de Saúde (11 de Março) e pela deslocação sucessiva do epicentro do coronavírus da China para a Europa (nomeadamente Itália e Espanha) e ultimamente para os Estados Unidos (onde projecções já apontam para um mínimo de 100 mil a 240 mil mortes provocadas pela Covid-19).
O movimento de deslocação do epicentro da pandemia provoca um processo “rotativo” de impactos económicos ao longo de 2020, como referiu Nouriel Roubini em entrevista ao Expresso. A economia mundial poderá recuar 1,5% em 2020, segundo as previsões avançadas pelo Institute of International Finance, o lóbi da banca privada mundial. Será uma contração incomparavelmente superior à quebra de 0,1% em 2009, então baptizada de ‘grande recessão’.
América Latina e Zona Euro mais penalizadas
As regiões mais penalizadas no mercado de ações foram a América Latina e a Zona Euro, com quebras mensais de 35% e 17% respectivamente.
Com derrocadas mensais acima de 30% incluem-se as bolsas de Bogotá (um recorde de 41,5%), São Paulo, Buenos Aires e Viena de Áustria, na área do euro. O índice PSI 20 da Bolsa de Lisboa perdeu em Março 15,5%, abaixo da média da zona euro.
Nova Iorque, onde se situam as duas mais importantes bolsas do mundo, registou uma queda de 13%.
Para a história das maiores quebras diárias na Europa ficam a segunda-feira negra de 9 de Março, com o índice da zona euro a tombar 7%, e a quinta-feira negra do dia 12, com um trambolhão de 14%.
Em termos de trimestre, o índice mundial perdeu 22%, o equivalente a 20 biliões de euros, mais do que o PIB mundial dos Estados Unidos. A zona euro registou uma contração de 27% da capitalização bolsista entre Janeiro e Março. Em Nova Iorque, a quebra trimestral foi de 20%, uma das maiores da história. Em Lisboa, o PSI 20 recuou 22% desde início do ano.
Preço do petróleo caiu 55%
No mercado das matérias-primas, o preço do ouro negro continuou em queda.
A cotação do barril de Brent caiu 55% durante Março, com o preço a descer a pique de 50,5 dólares no final de Fevereiro para 22,7 dólares no fecho de Março. A cotação chegou a registar um mínimo de 18 anos quando caiu para 21,65 dólares durante a sessão de segunda-feira.
A guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia não abrandou, juntando-se ao efeito da crise do coronavírus na procura do ouro negro.
Estímulos bilionários
Para travar a derrocada, entrou em campo a política orçamental dos governos e uma acção enérgica dos bancos centrais durante o mês.
Os estímulos orçamentais e garantias à liquidez já somam €5 biliões à escala mundial com destaque para o superpacote aprovado pelo Congresso dos EUA e promulgado por Trump num montante de 2,2 biliões de dólares (€2 biliões) e o envelope global da União Europeia (Comissão Europeia e governos) em torno de 2,2 biliões de euros. Em Washington, fala-se já de um quarto pacote de mais 600 mil milhões de dólares (€545 mil milhões).
No âmbito da política monetária, 50 bancos centrais cortaram as taxas em março. Alguns fizeram-no mais do que uma vez, com destaque para o Canadá que baixou as taxas por três vezes até 0,25%, a Reserva Federal dos EUA (Fed) que cortou duas vezes até ao mínimo de 0%, e o Banco de Inglaterra, também por duas vezes, descendo a taxa para 0,1%, um mínimo histórico. O Banco Central Europeu (BCE) não mexeu nas taxas, mantendo a taxa directora em 0% e a taxa negativa de remuneração dos depósitos dos bancos em -0,5%.
Vários bancos centrais optaram, também, por reforçar ou relançar programas de compra de activos. O destaque vai para o BCE e a Fed.
O banco dirigido por Christine Lagarde ampliou o plano de aquisições até final do ano em €870 mil milhões (através do reforço do programa em vigor desde Novembro e da criação a 18 de Março de um programa especial dirigido ao combate aos efeitos da pandemia). A Fed decidiu não colocar nem um limite de montante (como inicialmente tinha feito com um tecto de 750 mil milhões de dólares) nem de tempo (o fim do novo programa de compras não termina no final do ano).