Odirector do departamento africano do Fundo Monetário Internacional (FMI) disse ontem que já 20 países do continente pediram assistência financeira imediata, acrescentando que mais 10 devem solicitar ajuda para combater a pandemia da covid-19.
“Até agora, recebemos pedidos de financiamento de emergência de cerca de 20 países, com a expectativa de receber em breve pedidos de ajuda de outros 10 países ou mais”, escreveu Abebe Aemro Selassie, num artigo de opinião publicado em conjunto com a assessora Karen Ongley no blogue do FMI.
No texto refere-se que os primeiros acordos financeiros deverão estar assinados no princípio de Abril.
Os primeiros acordos financeiros deverão estar assinados no princípio de Abril
“O que começou como uma crise de saúde pública é hoje uma crise económica mundial de grandes proporções, e o nosso receio é que os países africanos sejam duramente atingidos”, lê-se no texto, que alerta que as condições dos países africanos são hoje muito diferentes das circunstâncias com que enfrentaram a anterior recessão mundial, em 2009.
“Há 10 anos, a região conseguiu ser poupada do pior da crise financeira mundial, com níveis reduzidos de endividamento, a maioria dos países tinha espaço para elevar os gastos e conseguiu implementar medidas de política anti cíclicas”, lembram os autores, apontando que “os países estavam também menos integrados aos mercados financeiros internacionais e, por isso, a interrupção do financiamento afectou apenas um pequeno número deles”.
Hoje, alertam, o panorama é bastante diferente: “Nenhuma dessas condições se aplica à situação actual, já que muitas economias subsaarianas têm margem limitada nos seus orçamentos para elevar os gastos, e são mais dependentes dos mercados internacionais de capitais”.
O número de mortes causadas pela covid-19 em África subiu para 73 com o número de casos acumulados a ultrapassar os 2 800 em 46 países
Além das dificuldades de implementar as medidas de ‘isolamento social’, como por exemplo trabalhar a partir de casa, para impedir o avanço do novo coronavírus, a pandemia terá “um efeito económico substancial na África subsaariana”, essencialmente por três razões, dizem os autores.
“Primeiro, as próprias medidas que são críticas para conter a propagação do vírus terão custos diretos para as economias locais”, já que vão implicar “menos trabalho remunerado, menos renda, menos gastos e menos empregos”.
Em segundo lugar, as adversidades à escala mundial terão repercussões na região: “A desaceleração nas grandes economias provocará uma queda na procura internacional, levando a interrupções na produção e nas cadeias de suprimento globais, que terão um impacto maior sobre o comércio”.
No artigo alerta-se ainda que “o aperto das condições financeiras mundiais limitará o acesso ao financiamento, sendo mais provável também que os países experimentem atrasos na realização de investimentos ou projetos de desenvolvimento”.
Por último, elencam, o forte declínio dos preços das matérias-primas atingirá duramente os exportadores de petróleo, agravando os dois primeiros efeitos e motivando “um impacto considerável”, com as estimativas do FMI a apontarem para que “cada recuo de 10% nos preços resulte, em média, numa redução de 0,6% do crescimento dos exportadores de petróleo e num aumento de 0,8% do PIB dos défices orçamentais globais”.
O número de mortes causadas pela covid-19 em África subiu para 73 com o número de casos acumulados a ultrapassar os 2 800 em 46 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia.