Agora que se tornou claro que duas semanas de isolamento não serão suficientes para debelar a ameaça do novo coronavírus (Covid-19), começam a surgir cenários assombrosos para a economia e a sociedade a uma escala global.
Os apelos para o regresso à normalidade são, na visão do futurista Gerd Leonhard, inúteis. De acordo com as suas previsões, no final de 2020 perceberemos que o mundo ao qual queríamos voltar já não existe.
“A crise não acabou rapidamente. Nunca regressámos ao normal”, prevê o futurista, posicionando-se como se estivesse no final deste ano a olhar para trás. As mudanças forçadas por esta pandemia serão permanentes e alcançarão a economia, sociedade, política, ambiente e ciência. Será um impacto similar ao da Grande Depressão e da II Guerra Mundial.
Gerd Leonhard prevê que a Europa vai emergir como nova líder global, enquanto Thomas Frey fala de uma “pandemia económica”
Outro futurista, Thomas Frey, considera que este momento é “o cisne negro de todos os cisnes negros” e que o novo coronavírus será a crise mais cara de toda a História. A sua previsão é de que “a pandemia económica” será muito mais grave que a covid-19, levando a bancarrotas, suicídios, fraudes, roubos, sem-abrigos e mais criminalidade. Isso vai desencadear consequências dramáticas.
Estes são alguns dos prognósticos que os futuristas fazem para o mundo pós-coronavírus:
Estados Unidos da Europa
A crise obrigará os países da União Europeia a colaborarem melhor e mais depressa, numa estratégia vital de adaptação e sobrevivência. A criação de um modelo “Estados Unidos da Europa” vai tornar-se mais consensual e a questão do Brexit desaparecerá da discussão.
Segundo Leonhard, “está claro para toda a gente que temos de colaborar ou arriscar a morte – a escolha é nossa.” O futurista chama a esta nova realidade “hiper-colaboração” e acredita que ela poderá levar a Europa a emergir como nova líder global nos próximos três anos por causa da crise. O mesmo fenómeno de colaboração mudará a forma como a comunidade científica global trabalha.
Início do fim dos combustíveis fósseis
“Pela primeira vez na modernidade, vemos o que acontece quando queimamos menos combustíveis fósseis”, e isso far-nos-á pensar. Leonhard prevê que a procura por viagens de avião, turismo e outras indústrias que consomem muitos combustíveis fósseis irá cair de forma permanente e que os investidores fugirão delas. O investimento será redireccionado para energias sustentáveis.
Indústria das companhias aéreas será diferente
Em especial na cultura das viagens haverá uma mudança dramática, antecipa Gerd Leonhard. O mundo acordará para as conferências, formações e reuniões remotas, mesmo após o fim das quarentenas. A plataforma Zoom será o novo YouTube, com “zoomlebrities”. As companhias aéreas vão investir em aeronaves neutras em carbono. As conversas com hologramas vão tornar-se frequentes.
Thomas Frey acredita que muitas empresas não voltarão a alocar orçamentos elevados para viagens aéreas, porque perceberão que podem operar com menos deslocações e reuniões cara a cara.
Maior transição laboral da História
Frey diz que haverá uma transição laboral maciça, com muitas pessoas despedidas a mudarem de carreira e a abrirem as suas próprias empresas. Segundo ele, “esta ronda de perda de empregos seguida de recuperação de trabalho será muito diferente de tudo o que vimos no passado”.
Tecnologia mais poderosa
As mudanças radicais no tele-trabalho que estamos a experimentar vão ter efeitos permanentes. Ao mesmo tempo, tornar-se-á ainda mais valiosa a interação entre humanos, devido à experiência de isolamento social por que todos estão a ser obrigados a passar.