Um contentor com quase 20 toneladas de polvo congelado, a caminho da empresa MozFinex de Portugal, foi arrestado no dia 16 de Março, no porto de Nacala, momentos antes de ser exportado com base em documentação falsa.
As Alfândegas e a Polícia da República de Moçambique (PRM) investigaram informações recebidas de várias fontes e agiram atempadamente impedindo o embarque do contentor, cuja mercadoria e estimada em mais de 70 mil euros.
O arresto foi ordenado pelas autoridades alfandegárias e policiais por terem constatado que a exportação tinha “graves irregularidades”, tais como descaminho da mercadoria por parte de um negociante português em conluio com uma empresa chinesa operando em Angoche.
As acareações feitas pelas autoridades revelam que os principais denunciantes desta irregularidade foram os gestores da empresa Mariscos do Índico, também baseada em Angoche, que informou as autoridades de que o contentor TTN183558600 com o selo EU 1836600 destinado ao navio MSC Agata KB011R continha mercadoria de origem ilícita.
“…temos alguns concorrentes que não respeitam as mais básicas normas de negócios com ética. Corrompem para obter licenças, saquear a produção dos que trabalham com seriedade…”
O negociante luso envolvido com a empresa chinesa nesta operação de exportação de mercadoria ilegal para a empresa portuguesa MozFinex, foi gestor da Mariscos do Índico até finais de 2019, tendo, porém, sido dispensado desses serviços na sequência de uma auditoria às contas da empresa.
A Mariscos do Índico é uma empresa de processamento de peixe e mariscos que tem beneficiado de investimentos feitos pela Sociedade de Investimentos Gapi, com o objectivo prioritário de valorizar e criar mercado para a produção de centenas de pescadores artesanais na região de Angoche.
A recém-empossada Ministra das Pescas, Augusta Maíta, esteve, há três semanas, em Angoche, para se inteirar dos problemas do seu sector, em particular das dificuldades de integrar os milhares de pescadores artesanais na nova estratégia da Economia Azul. A visita à fábrica da Mariscos do Índico constituiu um dos pontos altos da sua passagem por aquela região de Nampula.
Na ocasião da visita, o presidente do Conselho de Administração da Mariscos do Índico, João Maunze, informou que o investimento da Gapi, em cerca de um milhão de euros naquela fábrica, foi indispensável para sanear a empresa sobre-endividada do negociante português e a quem as autoridades retiraram as licenças de pesca e assim salvar aquelas infraestruturas e respectivos postos de trabalho.
Maunze crescentou que o saneamento implicou a criação de uma nova empresa (Mariscos do Índico) sem mau nome na banca, bem como a implementação de um projecto de modernização da sala de processamento, para que a produção artesanal passasse a ter qualidade para ser aceite tanto nos exigentes mercados europeus como no sistema de fornecimento de alimentos aos mega-projectos em curso no norte do país.
“Hoje, Angoche conta com uma sala de processamento de produtos do mar devidamente licenciada. Isto é um grande valor para esta comunidade. Mas, em termos sociais, temos localmente alguns concorrentes que não respeitam as mais básicas normas de negócios com ética. Corrompem muito para obter licenças, saquear a produção dos que trabalham com seriedade, usar artifícios legalistas para tentarem apropriar-se de património indispensável para desenvolver a indústria local…ainda há uma grande máfia no sector das pescas”, concluiu Maunze.
Na opinião de um outro gestor da Mariscos do Índico em Angoche, Manuel Mondlane, que tem estado à frente da operação de recuperação deste contentor em colaboração com as autoridades aduaneiras, o valor desta mercadoria “é muito importante para assegurar os salários dos cerca de 70 trabalhadores da empresa e prosseguirmos com a compra e incentivos aos pescadores locais para trazerem produto com qualidade que esteja dentro das normas internacionais”.