Aagência de notação financeira Fitch considerou esta quarta-feira que o surto do novo coronavírus aliado à descida dos preços do petróleo pode originar uma fuga de capitais de África, onde os governos enfrentam dificuldades económicas.
“O sentimento sombrio não afecta apenas o financiamento nos mercados internacionais, também pode levar à saída de investimentos e de capitais em locais onde há investimentos em moeda local”, disse o analista Mahmoud Harb à agência de informação financeira Bloomberg, no dia em que a agência de rating enviou um relatório sobre os efeitos do surto e da descida dos preços do petróleo em África e no Médio Oriente.
Os principais exportadores na África subsaariana (Nigéria e Angola) estão especialmente vulneráveis, assinalou o analista, lembrando que o petróleo perdeu 25% do valor na segunda-feira depois de os principais produtores terem discordado sobre cortes à produção para equilibrar a redução da procura motivada pela propagação da Covid-19.
Os investidores estrangeiros já venderam 1,2 mil milhões de dólares de títulos de dívida da África do Sul este mês
Os investidores estrangeiros já venderam 1,2 mil milhões de dólares de títulos de dívida da África do Sul este mês, e ao contrário da crise de 2014, que empurrou os produtores de matérias-primas para uma recessão, agora os países africanos estão sem espaço para aumentar a despesa pública.
Para além da elevada dívida pública que afecta boa parte dos países africanos, os governos desta região “têm um limitado espaço orçamental e almofadas externas, no sentido em que não têm ativos disponíveis para usar de forma contra cíclica, como grandes fundos soberanos bem apetrechados”, alertou Mahmoud Harb.
No relatório publicado ontem, a Fitch, que na semana passada reduziu o ‘rating’ de Angola devido à descida de preços e produção de petróleo e ao aumento da dívida pública, escreve que “Angola tem pouca margem orçamental para resistir a um choque”.
“A descida da notação de Angola reflete o impacto da produção mais baixa de petróleo, com preços mais baratos, e uma queda maior que o antecipado do kwanza, o que aumentou os níveis de dívida pública e os custos de servir a dívida externa, ao passo que os níveis das reservas internacionais também caíram”, escreveram então os analistas.