O presidente da Câmara de Energia Africana, NJ Ayuk, defendeu ontem que a exploração de gás no país tem de ser feita com transparência de políticas e de gestão, defendendo o envolvimento das populações nos projectos.
Num artigo de opinião o autor defendeu que é preciso integrar a população nos projectos, não apenas através das políticas de conteúdo local e pela criação de oportunidades de emprego para eles, mas também informando-os sobre o que está a ser desenvolvido, o que esperar e como os projectos de exploração de gás vão afectá-los e beneficiá-los.
“Isto precisa de ser combinado com uma transparência absoluta e políticas de gestão de recursos, garantidas pelas instituições com a autoridade para implementar a regulação”, acrescentou o também autor do livro “Billions at Play: The Future of African Energy and Doing Deals”.
O panorama actual é tão importante para Moçambique que se torna de importância capital fazer as coisas bem feitas
Para NJ Ayuk, o desenvolvimento económico de Moçambique vai conhecer um aumento exponencial com o início da exploração de gás natural no país, nomeadamente no Norte, onde a violência de grupos armados está a ensombrar as perspetivas de futuro do país.
“O país enfrenta violência no Norte, no sítio onde uma das centrais de tratamento de gás natural liquefeito será desenvolvida; insurgentes armados, alegadamente com motivações religiosas extremistas, têm atacado pequenas aldeias e trabalhadores estrangeiros”, referiu na análise.
Segundo o empresário, “as companhias envolvidas pediram ao Governo para enviar o exército para ajudar a controlar a situação, e alguns relatos indicam que os insurgentes são oriundos de locais muito pobres e foram radicalizados com base na ideia de que as companhias de petróleo e gás vão para lá com o objectivo de roubar os recursos e que ninguém vai beneficiar deles”.
No artigo, que passa em revista os avanços e recuos desde que há dez anos a Anadarko perfurou o poço que daria ao país a primeira grande descoberta de gás, NJ Ayuk defendeu que o panorama actual é “tão importante para Moçambique que se torna de importância capital fazer as coisas bem feitas”.
Já houve, lembrou, “demasiadas histórias africanas de grandes planos que deram para o torto”, acrescentando que o continente não precisa de outra em Moçambique “porque é o futuro do país e do seu povo que está em causa”.
Os mega-projectos de exploração de gás vão arrancar em 2022 e devem colocar Moçambique entre os maiores produtores mundiais nos dez anos seguintes, prevendo o Fundo Monetário Internacional (FMI) que a economia do país possa chegar a crescer mais de 10% ao ano.
Os investimentos da ordem dos 50 mil milhões de dólares são feitos por consórcios que operam nas áreas 1 e 4 da bacia do Rovuma, ao largo da costa norte do país, e que são liderados pelas petrolíferas Total, Exxon Mobil e Eni.