
As restrições ou dificuldades que as PME enfrentam para aceder ao financiamento da banca comercial representam um desafio. Os bancos tȇm plena consciência do tema, daí o reduzido peso das PME nas carteiras totais de crédito dos bancos comerciais locais ( entre 1% e 15%).
Esta métrica reflecte o baixo apetite dos bancos para com o risco associado a este segmento e as dificuldades para analisar a capacidade de endividamento das PME.
No que diz respeito às dificuldades enfrentadas, a falta de in- formação financeira organizada tem sido apontada como o principal problema que inibe os bancos em conceder financiamentos às PME. Porém, apesar da importância inquestionável da informação financeira na avaliação da capacidade de reembolso dos clientes, este não é necessariamente o factor único para este reduzido apetite.
Neste artigo, trago algumas sugestões que podem ajudar as PME que operam no mercado nacional a aceder a financiamentos bancários: Reforço do Formalismo, Reforço da Transparência, Reforço do Relacionamento com o banco parceiro, Compromisso com o Negócio e a Capitalização da Cadeia de Valor em que se encontra a operar.
A banca comercial tem clara consciência da pouca importância (infelizmente) que a informação financeira organizada recebe dos operadores das PME
Outra verdade é que os bancos comerciais são organizações com fins lucrativos, tendo a gestão de risco como pilar funda- mental do seu negócio e os recursos financeiros provenientes dos depositantes e dos seus investidores (accionistas e financiadores) como a principal mercadoria no âmbito da sua actividade creditícia.
A minha experiência de quase dez anos a trabalhar na área de crédito às empresas leva-me a concluir que quanto maiores elas forem, maiores são as facilidades de aceder aos financiamentos bancários. Este cenário não deriva necessariamente do facto dessas empresas serem maiores, mas sim da facilidade com que os bancos conseguem tomar a decisão de conceder (ou não) os financiamentos solicitados.
A banca comercial tem clara consciência da pouca importância (infelizmente) que a informação financeira organizada re- cebe dos operadores das PME. Porém, apesar da sua importância vital, a sua ausência não é necessariamente condição para ver restringida as possibilidades de acesso ao crédito bancário.
A realidade encontrada no mundo das grandes empresas (especialmente no que diz respeito à informação qualitativa ou alternativas) pode ser replicada pelas PME na sua relação com os bancos e, desta forma, aumentar suas possibilidades de acesso aos financiamentos quando necessário. Reforço do formalismo – Quanto maior for a empresa, maior tem sido a tendência da mesma operar em ambiente de legalidade. Não se pode esperar que o banco possa assinar um contrato com uma entidade sem personalidade jurídica legal- mente válida.
Esta exigência é eventualmente uma das grandes barreiras que afasta as PME da banca comercial. Reforço da transparência – O banco precisa de entender o negócio do cliente, tanto no que se refere ao ciclo económico como ao ciclo financeiro do negócio. Este entendimento facilmente pode ser conseguido nas grandes empresas, ou seja, a assimetria de informação entre o cliente e o banco geralmente tende a reduzir quanto maior for a empresa.
O banco precisa de entender o negócio do cliente, tanto no que se refere ao ciclo económico como ao ciclo financeiro do negócio. Este entendimento facilmente pode ser conseguido nas grandes empresas, ou seja, a assimetria de informação entre o cliente e o banco geralmente tende a reduzir quanto maior for a empresa.
Reforço de relacionamento – A concessão de crédito está baseada na confiança que o banco deposita num cliente sobre a sua vontade e capacidade de reembolsar os valores financiados. A narrativa partilhada deve ser reforçada por evidências concretas, sobretudo o histórico que se constrói com o tempo do relacionamento cliente-banco.
Conduta da conta: A quase totalidade dos relacionamentos entre o banco e o cliente começa com os depósitos. Diferente- mente das grandes empresas onde a qualidade de informação quantitiva aumenta com a grandeza da empresa, para as PMEs, os depósitos podem ser um elemento crucial para visualizar o ciclo financeiro do negócio.
Experiência positiva: Como o cliente espera ter uma experiência positiva na sua relação com o seu banco, este espera o mesmo dos seus clientes. Satisfazer com rigor os compromissos assumidos e o dever de informar antecipadamente sempre que estiver perante uma situação de potencial quebra desses eleva, sobremaneira, a pontuação do cliente e fidelização da relação para futuras necessidades.
Compromisso com o negócio: A questão é até onde os empresários neste segmento estão dispostos a ir em nome dos seus negócios? O comportamento do empresário perante o seu negócio pode sinalizar riscos (ou não) ao banco. Explorar a cadeia de valor das grandes empresas: estas PME que fornecem bens e serviços a grandes empresas tȇm a opção de descontar as facturas emitidas, as ordens de compra recebidas ou obter linhas de crédito flexíveis com a consignação das receitas de contratos celebrados para fornecimento de bens ou prestação de serviços. Estas soluções (que se enquadram no Supplier Finance – designação em inglês) existem nos bancos.
No que se refere às PME que actuam a jusante (distribuição), também existem possibilidades de acesso aos financiamentos alavancando a relação existente com grandes empresas, nomeadamente: 1) Garantias bancárias de pagamento para compras a crédito e, desta forma, reduzir a pressão sobre a tesouraria da empresa; 2) Linhas de crédito flexíveis para compras a pronto pagamento – sob forma de descobertos ou de empréstimos de curto prazo – alinhadas com o ciclo de tesouraria do negócio.
Escolha do produto de crédito: a escolha do produto deve estar estritamente alinhada com as necessidades do negócio que levam o cliente a solicitar o financiamento. O que se nota muitas das vezes é que os empresários tendem a acomodar-se em linhas que lhes conferem a comodidade a curto prazo sem observar o impacto a médio e longo prazo.
A escolha do produto deve estar estritamente alinhada com as necessidades do negócio que levam o cliente a solicitar o financiamento.
Por exemplo, um descoberto bancário é um produto preferido que confere tal comodidade, pelo facto de permitir um serviço de dívida limitado apenas aos juros mensais, tirando a pressão de amortização do capital no imediato. Por outro lado, as empresas tendem a usar as disponibilidades nas linhas flexíveis para fins que não estão no âmbito do contrato celebrado.
Como resultado, os fundos ficam empatados, criando constrangimentos ao próprio negócio. Em última instância, estas situações impactam na classificação comportamental do cliente pelo banco. Uma indicação objectiva sobre o real propósito do financia- mento pode ajudar na avaliação da racionalidade e alinha- mento das necessidades com o melhor produto a usar.
Conclusão: A falta de informação objectiva sobre o negócio (ou projecto) e as necessidades associadas aos financiamentos contribuem sobremaneira para as dificuldades enfrentadas pelas PME na intenção de obter apoio financeiro dos bancos. A ausência de informação financeira organizada não é a única limitação, pois existem outras formas de aumentar as possibilidades de acederem a financiamentos, baseada na qualidade de informação e do relacionamento com o banco parceiro.