A Economist Intelligence Unit (EIU) considerou que o desenvolvimento dos projectos de gás natural em Cabo Delgado está “ameaçado” pela crescente presença militar de grupos islamitas na região.
“O desenvolvimento das fábricas para a exploração de gás na província nortenha de Cabo Delgado é ameaçado pela crescente presença militar de grupos islamitas, incluindo o movimento local Ansar al-Sunna e, cada vez mais, afiliados locais do Estado Islâmico”, escrevem os analistas.
Num comentário à assinatura de um acordo entre o Governo da Noruega e o de Moçambique para desenvolver a sustentabilidade da exploração de gás no país, os especialistas dizem que “os ataques militantes aumentaram em severidade e frequência durante o ano passado, e é provável que continuem, mesmo com as forças de segurança estatais a debaterem-se para os conter”.
Moçambique vai começar a exportar gás natural a partir de 2022 graças a mega-projectos de extracção e liquefacção na bacia do Rovuma
Sobre o acordo assinado entre Moçambique e a Noruega, a EIU refere que “serve para facilitar a exploração sustentável dos recursos de petróleo e gás sem colocar o ambiente em perigo, e para aumentar as oportunidades económicas dos moçambicanos”.
No texto, a EIU salienta que “as causas subjacentes da insurgência são multifacetadas, mas as limitadas oportunidades económicas e a frustração popular sobre o alto nível de corrupção, assim como a fraca gestão orçamental a nível estatal lançaram as sementes para o descontentamento generalizado”.
O Fundo Soberano, que Moçambique anunciou no ano passado ser uma iniciativa sobre a qual tem interesse, “pode ajudar o país a gerir melhor as suas enormes receitas de gás que vão em breve ser uma realidade”.
Para a EIU, “usar essas receitas para angariar poupanças vai funcionar como uma ‘almofada orçamental’ em caso de descida dos preços, permitindo ao Governo manter os programas de despesa pública, mesmo que os preços caiam e a receita diminua”.
Há uma semana, o Governo moçambicano e o reino da Noruega assinaram um acordo que prevê que o país nórdico fortaleça Moçambique ao nível da gestão das futuras receitas de gás natural.
O acordo de capacitação foi assinado no quadro da visita do príncipe Haakon Magno a Maputo
“Foi assinado um acordo que se destina ao fortalecimento da gestão petrolífera que é sensível e precisa de ser gerida correctamente”, disse então Verónica Macamo, ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, salientando que isso “vai ser muito importante para a gestão de recursos e receitas e de expectativas”.
Moçambique vai começar a exportar gás natural a partir de 2022 graças a mega-projectos de extracção e liquefacção na bacia do Rovuma que ao longo da próxima década deverão colocar o país na lista dos dez primeiros produtores mundiais.
A assinatura do acordo acontece numa altura em que Moçambique discute a criação de um fundo soberano para gestão das receitas petrolíferas – sendo que a nação escandinava tem o maior fundo soberano do mundo.
Por seu turno, o ministro para o Desenvolvimento Internacional norueguês, Dag Inge Ulstein – que integrou a comitiva de Haakon Magno -, disse que o acordo prevê um programa de capacitação de modo a garantir que os recursos beneficiem as gerações vindouras e a salvaguarda do ambiente.
O Fundo Soberano “pode ajudar [Moçambique] a gerir melhor as suas enormes receitas de gás…”
O diplomata explicou que é necessário que haja uma sociedade civil muito forte pois os países com recursos têm de se concentrar nas melhores práticas de gestão.
Na região austral, Moçambique é o terceiro país que mais fundos absorveu da Noruega em 2018, com cerca de 35 milhões de euros, segundo dados oficiais daquele país.O Reino da Noruega tem prestado apoio ao país há mais de 40 anos, numa cooperação virada sobretudo para as áreas de energia, saúde, igualdade de género e apoio ao sector privado.“Qualquer país que descubra grandes depósitos de gás natural tem grandes oportunidades. Esta indústria pode construir o bem-estar e uma economia sustentável de tal modo que todos os aspectos ambientais estejam contemplados”, disse.