O presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) defendeu, esta quinta-feira, que os governos africanos devem “ser mais prudentes” na gestão da dívida pública, recusando, no entanto, a ideia de uma crise da dívida no continente.
“África não tem uma crise de dívida sistémica, no entanto, temos de ver a qualidade da dívida, a decomposição entre dívida concessional e não concessional [a preços de mercado], os potenciais efeitos negativos no afastamento do sector privado no acesso ao financiamento, o crescente nível de dívida bilateral a credores fora do Clube de Paris, e o aumento nos volumes de emissão de dívida em moeda estrangeira (‘eurobonds’)”, disse Akinwumi Adesina.
O responsável falava na apresentação do relatório das Perspectivas Económicas Africanas, divulgado em Abidjan, a sede do BAD.
“O investimento directo estrangeiro para África aumentou 11% em 2019”
A dívida total está actualmente nos 500 mil milhões de dólares, e o rácio face ao Produto Interno Bruto (PIB) aumentou de 38% em 2008 para 54% em 2018, mas ainda assim Akinwumi Adesina afirmou: “Deixem-me ser claro, África não tem uma crise de dívida sistémica”.
“Temos todos de, colectivamente, nos focar na gestão sustentável da dívida e basear-nos mais na mobilização de recursos domésticos para financiar o aumento dos défices orçamentais”, acrescentou.
Durante a apresentação do relatório deste ano, com o subtítulo “Desenvolvendo a Força de Trabalho Africana para o Futuro”, Adesina argumentou que “a maior parte da dívida é, na verdade, gasta em infraestrutura, que é um dos grandes desafios em muitos países”.
Os países, defendeu, “devem aumentar a eficiência face aos custos nos seus gastos nesta área, dando prioridade às infraestruturas de qualidade, melhoria da eficiência na despesa pública nesta área, e promovendo, ao mesmo tempo, uma participação maior do sector privado”.
A dívida total está actualmente nos 500 mil milhões de dólares, e o rácio face ao PIB aumentou de 38% em 2008 para 54% em 2018
África “já não pode ser ignorada”, não só devido ao crescimento da população para 2,5 mil milhões até 2050, mas também porque “oferece um mercado imenso de oportunidades de investimento”, disse Adesina, lembrando os sete fóruns de investimento entre um país e África, o último dos quais na semana passada, em Londres.
“O investimento directo estrangeiro para África aumentou 11% em 2019, comparado com 4% na Ásia, ao passo que declinou 13% a nível global e caiu 23% nas economias desenvolvidas”, salientou o banqueiro.