A Organização Não Governamental Comité para o Jubileu da Dívida (CJD) conclui que o investimento público no país caiu 21% entre 2015 e 2018, ligando esta redução da despesa pública com o aumento dos encargos da dívida.
“A despesa pública moçambicana foi cortada em 21% entre 2015 e 2018, no seguimento da crise da dívida originada por empréstimos secretos de bancos londrinos”, lê-se no relatório, o qual refere que, para os 15 países cuja receita é canalizada em mais de 18% para os pagamentos de dívida, 14 viram a despesa pública por cidadão cair entre estes três anos.
“Em média, estes 15 países sofreram cortes de 13%” no investimento do Estado, segundo o relatório, e que usa os dados de 60 países seguidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o investimento público e o pagamento da dívida soberana.
“É preciso que o FMI e o Banco Mundial parem de resgatar os emprestadores irresponsáveis que contribuem para o aumento de dívidas”
“Em contraste, nos 30 países com os pagamentos de dívida mais baixos, a despesa pública aumentou 14% entre 2015 e 2018”, sendo a República do Congo o país com o maior corte no investimento neste período com 50%, o Chade com 35%, e Moçambique com 21%.
“O mundo tem de acordar para o efeito cada vez maior da dívida nos países mais pobres”, comentou a directora do CJD, Sarah-Jayne Clifton, citada no relatório.
“Os pagamentos de dívida cada vez maiores e os cortes na despesa pública são uma receita para o desastre: cumprir os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável relativos ao corte da pobreza e da desigualdade obriga a grandes aumentos de investimento público, mas em muitos países está a acontecer o contrário”, lamenta.
“É preciso que o FMI e o Banco Mundial parem de resgatar os emprestadores irresponsáveis que estão a contribuir para este aumento de dívidas e façam a sua parte na obtenção, rapidamente, de acordos de reestruturação de dívida para os países em crise”, defendeu a directora do CJD.
“A despesa pública moçambicana foi cortada em 21% no seguimento da crise da dívida originada por empréstimos secretos de bancos londrinos”
No relatório, explica-se que o panorama deverá piorar nos próximos anos, já que os cálculos do CJD apontam para um aumento dos pagamentos da dívida e um agravamento do seu efeito no investimento público.
“No nosso cenário mais favorável, de forte crescimento e sem choques económicos, os pagamentos da dívida vão continuar a aumentar, mas se houve um choque económico generalizado, como quedas no preço das matérias-primas, aumento das taxas de juro ou desastres abrangentes decorrentes de eventos climáticos, a média dos pagamentos de dívida pode continuar a aumentar rapidamente e chegar ao nível mais elevado dos últimos 20 anos”, alertam os analistas.