As imagens da assinatura do acordo para a Decisão Final de Investimento da Área 1 percorreram o mundo, mostrando que Moçambique está de regresso à primeira liga dos destinos de investimento.
Este anúncio coincidiu com a Conferência Estados Unidos – África, em Maputo, que contou, não só com um número histórico de chefes de Estado, mas também com centenas de em- presas norte-americanas interessadas em investir em África, com um foco muito particular em Moçambique.
A estabilidade macro-económica dos últimos dois anos, combinada com a Decisão Final de Investimento, são os dois principais factores para o aumento da atractividade do país aos olhos dos investidores estrangeiros.
Caso se confirme o progresso na reestruturação das dívidas externas e a consequente melhoria no rating, Moçambique completará este ciclo negativo com instituições e politícas mais fortes, uma economia mais equilibrada e a confiança dos parceiros internacionais.
A estabilidade macro-económica dos últimos dois anos, combinada com a Decisão Final de Investimento, são os dois principais factores para o aumento da atractividade do país aos olhos dos investidores estrangeiros
Com esta decisão, e a possibilidade bem real de uma similar para a Área 4, Moçambique volta a ser um país com excelentes perspectivas para as empresas que querem fazer parte de uma cadeia de valor que irá mover milhares de milhões de dólares de investimento e de exportações, e que a partir de hoje é uma realidade.
Mas será tudo isto imediato ou teremos de esperar dois, três ou mesmo seis anos, até que os Moçambicanos possam sentir o impacto das Decisões Finais de Investimento?
As perspectivas para os próximos 12 meses, o Hoje, são essencialmente: (1) o aumento do número de empresas estrangeiras a investir em Moçambique, com o consequente aumento dos fluxos de entrada de capitais; (2) a aceleração do cresci- mento económico no segundo semestre de 2019 e no primeiro
de 2020; e (3) a continuação de contenção na despesa e investimento público, resultado em parte do esforço que o Estado terá de efectuar nas zonas impactadas pelos furacões Idaí e Kenneth.
O impacto destes três factores nos indicadores macro-económicos será ainda muito ligeiro, com a expectativa do Investi- mento Directo Estrangeiro (IDE) aumentar 30% em 2019 e 31% em 2020, vindo de bases historicamente muito baixas em 2017 e 2018; o PIB crescer acima de 5% em 2020, comparado com os 2% a 3% em 2019; e a inflação situar-se em torno dos 5% a 7% em 2019 e 2020.
Importa referir que o aumento do IDE, combinado com uma inflação controlada, permitirá manter a estabilidade do metical face ao dólar, apesar do aumento já verificado nas importações.
No entanto, o verdadeiro impacto das Decisões Finais de Investimento irá verificar-se, numa primeira fase, num horizonte de dois a seis anos e, numa segunda fase, a partir de 2025, ou seja, no Amanhã.
Com um investimento de aproximadamente 50 mil milhões de dólares nos próximos seis anos, grande parte em equipamento e mão-de-obra especializada, iremos entrar numa nova era de investimento no país.
Deste montante, estima-se que cerca de 10% do valor de investimento seja em mão-de-obra, bens e serviços produzidos e disponibilizados localmente, o que representaria 5 mil milhões de dólares ao longo de seis anos de construção.
Para os mais cépticos, 10% de um projecto é manifestamente pouco, mas quando colocamos este valor em perspectiva, o contributo adicional de mil milhões de dólares por ano, para um PIB que actualmente se situa nos 14 mil milhões de dólares, representa um impacto de 7% ao longo deste período.
Desta forma, prevê-se um aumento do crescimento económico neste período para níveis de 6% a 7%, que os níveis de inflação se mantenham controlados e o metical se situe entre 60 e 65 para o dólar.
Na segunda fase, que representa a de produção após 2025, ire- mos realmente assistir à revolução da economia Moçambicana, fruto das exportações de gás que poderão atingir 12 mil milhões de dólares por ano.
Para além destas, prevê-se um contributo anual proveniente de impostos, royalties e dividendos para os cofres do Estado Moçambicano de 3 a 5 mil milhões de dólares por ano, montante superior à totalidade das receitas fiscais angariadas actualmente.
O impacto desta segunda fase nos indicadores macro-económicos será obviamente muito elevado com o PIB a crescer próximos dos 10%, o metical a apreciar para níveis abaixo dos 60 e a inflação mantendo-se abaixo dos 10%. O principal impacto, no entanto, será ao nível das contas públicas e a retoma da capacidade de investimento público, que deverá ocorrer no período após 2025.
Este factor, tal como no passado, será um elemento multiplicador do crescimento económico e deverá contribuir de for- ma muito significativa para Moçambique voltar a ser um dos países com maiores taxas de crescimento em África e globalmente.
A conclusão principal que se pode retirar de um mês de Junho cheio de boas notícias é que a plataforma para o regresso ao to- po da lista dos países que mais crescem no mundo está montada, que 2019 e 2020 servirão de rampa de lançamento, mas o período realmente transformacional ocorrerá na fase de produção. O que temos de fazer Hoje é continuar a preparar o Amanhã, se possível sem cometer os erros do passado.
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